Tenente ajudou gabinete paralelo de Moraes a censurar pessoas

Integrantes do gabinete paralelo do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitaram auxílio de um tenente-coronel da Polícia Militar da Bahia (PMBA) para censurar manifestantes. É o que mostra a troca de mensagens do dia 8 de novembro de 2022, obtida com exclusividade por Oeste.

Naquela ocasião, os juízes auxiliares Airton Vieira e Marco Antônio Vargas e o então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação, Eduardo Tagliaferro, dialogavam sobre a aplicação de multas a caminhoneiros que seguiam para o Distrito Federal, insatisfeitos com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

O gabinete paralelo pediu a ajuda do tenente para identificar as placas dos veículos que seriam multados e para mapear um possível vínculo dos caminhoneiros com “financiadores” da manifestação. Em uma troca de mensagens, Tagliaferro sugere elaborar um relatório para o ministro com os nomes das empresas envolvidas. Airton Vieira responde que havia muitos caminhoneiros e, em seguida, elogia a iniciativa: “Se puder, muito melhor, Eduardo. Obrigado”.

Primeira parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
Primeira parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste

Minutos depois, Marco Antônio Vargas encaminha uma conversa que teve com o tenente-coronel José Luis Santos Silva, da PMBA:

[8/11 22:24] Marco Vargas: Boa noite Coronel, desculpe o horário. O Ministro quer as placas para identificar os caminhões e empresas que estão vindo para Brasília, para aplicar multa diária. O senhor consegue ver com o comando do DF? Grato.
[8/11 22:25] Ten. -Cel José Luiz Santos Silva -PMBA: Boa noite! Solicitarei.
[8/11 22:25] Marco Vargas: Muito obrigado 🙏

Segunda parte do diálogo | Foto: Divulgação/OesteSegunda parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
Segunda parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
Registro da reunião entre policiais e Alexandre de Moraes | Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSERegistro da reunião entre policiais e Alexandre de Moraes | Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE
Registro da reunião entre policiais e Alexandre de Moraes | Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

O tenente-coronel José Luis Santos Silva participou de uma reunião com o ministro Alexandre de Moraes em 23 de novembro de 2022, dias depois da troca de mensagens com Marco Antônio Vargas. Na época, o militar era secretário-geral do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais (CNCG). Ele descreveu o encontro como “tranquilo e amistoso”, segundo reportagem da Agência Brasil.

José Luis ainda afirmou que a intenção inicial do encontro era discutir melhorias para futuras eleições, sem previsão de novas reuniões: “Vamos começar a desenvolver um aperfeiçoamento das próximas eleições, mas isso ainda está em termos de intenções”, disse, na época. “Isso vai ficar para discutirmos em momento oportuno”.

Durante a reunião, Moraes agradeceu o empenho das forças de segurança e destacou o “compromisso dessas instituições com a democracia”. O ministro também anunciou que concederia ao CNCG a medalha da Ordem do Mérito Assis Brasil, homenagem do TSE a personalidades civis e militares, nacionais e estrangeiras, que tenham prestado “relevantes serviços à Justiça Eleitoral e à democracia”.

O que é a Vaza Toga

As informações e os documentos divulgados nesta reportagem, obtidos por Oeste com exclusividade, acrescentam novos e graves detalhes aos fatos que começaram a vir à luz a partir das revelações contidas em reportagens publicadas inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo, no que ficou conhecido como Vaza Toga.

As primeiras denúncias foram feitas por Glenn Greenwald e Fábio Serapião, conforme registrado pela Oeste.

Novos documentos comprometedores vieram à tona em apuração de David Ágape e Eli Vieira, publicadas no site Public.

Leia também: “A fraude exposta”, reportagem de capa da Edição 285 da Revista Oeste. Aqui estão os detalhes da Vaza Toga 3

Fonte: Revista Oeste

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