O advogado da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP), Fábio Pagnozzi, afirmou nesta segunda-feira, 22, que a prisão da parlamentar na Itália está repleta de irregularidades jurídicas e marcada por interferências políticas do governo brasileiro. Em entrevista ao Jornal da Oeste Primeira Edição, ele explicou que a deputada permanece presa em território italiano com base em um pedido cautelar da Interpol.
O advogado sustenta, porém, que o processo de extradição não foi formalizado corretamente. “Aqui na Itália, o processo da Carla é um processo baseado em nada. Tem um processo de extradição que até hoje não foi preenchido com os requisitos legais.”
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Segundo ele, o formulário deveria ter sido preenchido pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, mas acabou sendo enviado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator das ações contra a deputada no Supremo Tribunal Federal (STF). “A Itália, por sua vez, teria ali um prazo de 40 dias, se esse formulário não for preenchido de forma correta, a deputada tem que ser colocada em liberdade. Esse prazo, ele praticamente já acabou.”

Pagnozzi acusa o governo Lula de interferir no processo por meio da contratação de um escritório de advocacia na Itália, escolhido pela Advocacia-Geral da União (AGU). O escritório, segundo ele, seria ligado a Paolo Gentiloni, ex-presidente do Conselho de Ministros da Itália e aliado político do PT.
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Gentiloni manifestou apoio público ao então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando o petista foi solto da prisão, em 2019. Mas, mesmo se não houvesse o vínculo político, o advogado escolhido pelo governo brasileiro não poderia atuar contra Zambelli, uma vez que a Justiça italiana determina que o Estado seja representado por um procurador.
“Isso mostra que o governo brasileiro não está aqui, na Itália, tentando fazer com que a Carla seja extraditada de forma jurídica, e sim usando esse advogado como uma peça-chave atrás da cortina do Judiciário para tentar fazer politicagem”, concluiu Pagnozzi. O advogado está em solo italiano para atuar na defesa da deputada.


O advogado diz que não desejaria ver uma crise diplomática entre Brasil e Itália, mas ressalta a necessidade de o governo da Itália saber em detalhes a postura do governo brasileiro. “Porque é inacreditável uma pessoa doente, uma pessoa cheia de medicamentos para tomar, que tem um relatório médico feito aí no Brasil por uma equipe médica gigantesca” estar passando pela situação em que Zambelli se encontra.
Segundo Pagnozzi, 18 médicos brasileiros atestaram as comorbidades de Zambelli. No entanto, quando a parlamentar chegou à Itália, um médico contratado pela embaixada e um advogado, que não poderiam ser incluídos no processo, “simplesmente interferem e dizem que ela corre o risco de fuga e que ela não necessitaria de tantos remédios”. Dos 17 medicamentos prescritos para a parlamentar, apenas três são disponibilizados a ela.
Saúde de Zambelli se deteriorou na prisão
Pagnozzi relatou que Zambelli estaria submetida a condições severas de encarceramento em uma penitenciária italiana, onde passa 23 horas e 30 minutos por dia trancada na cela, com direito a apenas 30 minutos de banho de sol. “Ela realmente fica num estado depressivo e de desespero.”


Segundo ele, a deputada evita dividir espaços coletivos com outras presas, por medo de sofrer violência, e toma banho apenas dentro da cela, que não é uma cela comum. “Há três pavilhões nessa penitenciária: o primeiro pavilhão, que seria o andar de baixo, são dos presos violentos, o segundo e o terceiro são de presos provisórios”, explica. “O pavilhão dela só dá direito a sair de dentro da cela duas vezes por dia, durante 15 minutos.”
O advogado denunciou ainda a dificuldade de comunicação da parlamentar, já que ela não domina o italiano e enfrenta barreiras no atendimento médico. “Quando ela vai falar com alguém dentro da penitenciária, você vai falar com o médico, vai falar com alguém que não está se sentindo bem, eles não fazem a mínima do que a pessoa está falando, porque não é a língua nativa deles.”
Pagnozzi ressaltou que Zambelli reafirma sua inocência e está disposta a responder por eventuais acusações, desde que não no Brasil. “Ela falou: ‘Se acharem alguma coisa, eu cumpro pena. Mas eu quero cumprir pena em outro país que não seja o Brasil’”, afirmou. “Porque ela sabe que no Brasil vão arranjar mais 50 outros motivos para ela ficar presa.”
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Fonte: Revista Oeste
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