Ucrânia acusa cônsul russo no Brasil de recrutar mulheres ilegalmente

O governo da Ucrânia afirmou que o cônsul honorário da Rússia em Curitiba, Acef Antônio Said, usa seu posto diplomático para recrutar jovens brasileiras, com o objetivo de enviá-las a fábricas de produção de drones em solo russo. A acusação foi divulgada na segunda-feira (1º/9), pela embaixada ucraniana em Brasília.


Esquema de recrutamento

  • De acordo com o serviço de inteligência da Ucrânia, a Rússia tem recrutado mulheres, vindas de países economicamente vulneráveis, para produzir drones em solo russo.
  • O recrutamento aconteceria por meio de um programa conhecido como Alabuga Start, que oferece oportunidades de emprego na Rússia.
  • Segundo investigações, estruturas dos Brics estariam sendo utilizadas para atrair tais jovens.

De acordo com nota divulgada pela representação diplomática ucraniana, o cônsul atua no recrutamento de brasileiras sob o pretexto de “formação profissional” e “comunicação intercultural”.

Asad é brasileiro, e ocupa o posto de cônsul honorário da Rússia em Curitiba desde 2016. No mundo diplomático, a função possui valor simbólico, já que tais representantes não são diplomatas de carreira, tampouco naturais do país cujo governo indicou para o cargo. Eles costumam atuar, principalmente, na promoção de relações comerciais e culturais entre dois países.

A acusação — ainda sem provas concretas — surge dias após o Serviço de Inteligência Estrangeira da Ucrânia (SZR) denunciar um suposto esquema de recrutamento de mulheres, por meio do programa Alabuga Start, para a fabricação de drones russo.

Em outubro do último ano, Said apresentou a inciativa para a autoridades municipais do Paraná. O evento foi registrado em imagens, posteriormente divulgadas nas redes sociais do Consulado Honorário da Federação da Rússia em Curitiba.

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Autoridade municipal do Paraná e cônsul da Rússia em Santa Catarina (à direita)

Reprodução/Facebook

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Alabuga Start

Reprodução/Facebook

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Programa Alabuga Start é divulgado pela representação diplomática russa em SC

Reprodução/Facebook

Antes disso, materiais ligado ao Alabuga Start foram publicados na página da representação diplomática russa na capital paranaense. A ideia foi vendida como “uma oportunidade única de adquiri [sic] experiência de trabalho, aprender a língua e a cultura russa”.

O Metrópoles procurou Acef Antônio Said, o Itamaraty e a embaixada da Rússia no Brasil para esclarecimentos sobre a denúncia ucraniana. Até a publicação desta reportagem, nenhum dos lados retornou os contatos. O espaço segue aberto.

Envolvimento entre Alabuga e Brics

O Alabuga Start se apresenta como uma oportunidade para jovens mulheres trabalharem na Rússia, em áreas como transporte e logística, serviço e hospitalidade, operação de produção e trabalhos de montagens. As vagas ofertadas são para períodos de até 2 anos, com salários iniciais de US$ 541 dólares (cerca de R$ 2,9 mil).

Ao ingressarem no programa, porém, jovens estariam sendo enviadas para fábricas de produção de drones, localizadas na região do Tartaristão. Ao todo, informações divulgadas pela iniciativa apontam que mulheres de 44 países foram contratadas por meio do Start. Entre elas, naturais do Brasil, Moçambique, Colômbia, Mali, Ruanda, Sudão do Sul e República Democrática do Congo (RDC). A iniciativa já foi alvo de denúncias no último ano, quando ex-participantes do programa relataram, à Associated Press (AP), terem sido enganadas com falsas promessas de emprego.

 

Para a inteligência ucraniana, estruturas do Brics foram utilizadas recentemente para o recrutamento, durante evento realizado em Moscou.

Em maio deste ano, a capital da Rússia recebeu o II Fórum de Empreendedorismo Feminino do Brics. Na ocasião, o braço da Aliança Empresarial de Mulheres do Brics (WBA) na África do Sul assinou uma série de acordos com empresas e iniciativas russas — entre eles um compromisso que a Alabuga Start.

No pacto ficou previsto o envio de 5,6 mil sul-africanas para trabalharem em empresas ligadas a Alabuga Start, segundo informações oficiais no site da WBA.

Fonte: Metrópoles

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