Uma família de Igarapé, município localizado em Minas Gerais, vive um drama desde julho, na tentativa de repatriar o corpo de Gabriel Oliveira, brasileiro que morreu no Camboja em circunstâncias ainda não tão claras.
Em abril deste ano, o jovem de 24 anos recebeu uma oferta de emprego no Camboja, na área de tecnologia da informação, com um contrato de 1 ano e 6 meses, e decidiu buscar melhorias de vida no país localizado a mais de 17 mil km do Brasil.
De acordo com familiares de Gabriel, ouvidos pelo Metrópoles, o jovem deixou o país no início daquele mês, com todos os custos da viagem pagos pela empresa que o contrato. Antes de chegar ao Camboja, o morador de Igarapé desembarcou na Tailândia, por onde cruzou a fronteira para o país vizinho em uma van.
Mesmo com o fuso horário e a distância entre os dois países, o jovem costumava manter contato com a família nos primeiros meses no Camboja, através de ligações telefônicas e chamadas de vídeo.
“Nós conversávamos sempre”, diz o pai de Gabriel, Daniel Araújo, à reportagem. “Ele nos mostrava a casa onde estava morando, enviava vídeos na academia, mas não falava muito sobre o trabalho. O que ele falava era que trabalhava fazendo manutenção na rede de computadores da empresa, e que a cargo de trabalho era muito grande”.
Último contato
Dez dias se passaram desde o último contato de Gabriel com familiares, em 5 de julho, até a confirmação de sua morte pela diplomacia brasileira.
Era 15 de julho quando a família do jovem recebeu um telefonema da embaixada brasileira em Bangkok, Tailândia — que cuida de assuntos consulares relacionados a brasileiros no Camboja, já que o Brasil não possui uma representação diplomática no país —, informando que Gabriel havia morrido.
Segundo a chancelaria brasileira, o mineiro de 24 anos morreu durante um incêndio acidental. As circunstâncias do caso, porém, não foram esclarecidas.
Dois dias depois do comunicado, o pai do mineiro viajou de Igarapé a Brasília, para realizar uma espécie de reconhecimento do jovem. No Ministério das Relações Exteriores, Daniel Araújo foi exposto a duas fotos do cidadão brasileiro envolvido no incidente no Camboja, e declarou ter “90% de certeza” de que o homem nas imagens era Gabriel.
Repatriação
Com a confirmação da morte, a família do brasileiro buscou o governo federal para auxiliar na repatriação do corpo do jovem brasileiro, conforme prevê a legislação do país.
O pedido, no entanto, foi negado pelo Ministério das Relações Exteriores. Segundo o pai de Gabriel, a diplomacia brasileira informou que o caso do jovem não se enquadra nos critérios utilizados pelo governo brasileiro sobre o translado de corpos de brasileiros que morreram no exterior.
Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um decreto que mudou as regras para translado de corpos de brasileiros mortos no exterior — decisão tomada após a morte de Juliana Marins, na Indonésia.
Com a decisão, ficou estabelecido que o governo brasileiro deve custear o transporte em quatro casos: quando a família não possui recursos financeiros para pagar o translado; em ocasiões em que o deslocamento não é coberto por seguros de vida; em casos de mortes que provoquem comoção nacional; e caso a máquina pública possua disponibilidade orçamentária.
“Nós recorremos a negativa do Itamaraty junto Advocacia-Geral da União, mas o pedido também foi negado”, explica Daniel. “Enquanto isso, a situação aqui segue difícil. Imagina um pai, longe do filho, sem poder resgatá-lo, com uma filha e uma esposa chorando ao lado sem saber se vão conseguir se despedir do irmão e filho?”.
Com a falta de resposta por parte do governo federal, a família do brasileiro criou uma página no Instagram, nomeada “Repatriação do Gabriel”, na tentativa de chamar a atenção para o caso e pressionar autoridades.
Procurado pelo Metrópoles, o Ministério das Relações Exteriores não retornou os questionamentos sobre o caso até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.
Fonte: Metrópoles
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