Donald Trump chama o processo contra Jair Bolsonaro de “caça às bruxas”
Foto: Andrew Caballero-reynolds / AFP

A mais recente crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou contornos inéditos nessa noite de sexta-feira, o governo norte-americano decide cancelar os vistos de entrada nos EUA do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de seus familiares e de uma lista de outras autoridades brasileiras. A medida, adotada formalmente pela administração Trump, representa um sinal claro de reprovação ao comportamento de membros do Judiciário brasileiro e é vista por muitos como uma resposta direta à deterioração de princípios democráticos no Brasil.

Governo Trump endurece contra ministros do STF

Ao assumir novamente a presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025, Donald Trump prometeu reposicionar o país no cenário global com foco em valores conservadores, proteção à liberdade de expressão e enfrentamento ao que chama de “autoritarismo judicial disfarçado de democracia” em nações aliadas. A decisão de cancelar os vistos de Alexandre de Moraes e de outros membros do Judiciário brasileiro reflete essa diretriz.

De acordo com comunicado oficial emitido pela Casa Branca, os vistos foram revogados com base em informações que apontam “graves violações de direitos fundamentais, ataques sistemáticos à liberdade de expressão e repressão a opositores políticos no Brasil, promovidos por membros da elite jurídica do país”.

Quem está na lista de autoridades afetadas

Além de Moraes, diversos nomes foram mencionados em bastidores e apurações jornalísticas como alvos da decisão. Entre eles estão os ministros Flávio Dino, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Cristiano Zanin e outros integrantes de alto escalão do STF, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Familiares próximos, como esposas e filhos, também tiveram seus vistos de entrada cancelados, o que demonstra uma postura dura e abrangente da administração norte-americana.

A medida visa não apenas restringir viagens de lazer ou compromissos acadêmicos, mas também impedir a atuação dessas figuras em eventos internacionais, palestras, fóruns jurídicos e contatos com organizações norte-americanas.

Reações no Brasil: polarização acentuada

A revogação dos vistos gerou reações imediatas em Brasília. A oposição, formada por parlamentares conservadores e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, comemorou a decisão como uma “confirmação internacional do abuso de poder” cometido por Alexandre de Moraes e outros ministros do STF. Deputados e senadores afirmaram que a medida dos EUA chancela as denúncias feitas contra a condução autoritária de inquéritos, censuras e perseguições políticas no Brasil.

Por outro lado, integrantes do governo Lula e seus aliados viram a decisão com desconfiança e classificaram o ato como “interferência externa”. Parlamentares da base governista sugeriram que Trump está tentando utilizar o Brasil como palco para reforçar sua agenda ideológica e enfraquecer governos de esquerda na América Latina.

Antecedentes e o histórico de tensões

A relação entre Trump e o governo Lula já vinha sendo marcada por desentendimentos desde o início do atual mandato presidencial nos EUA. Trump nunca escondeu seu desagrado com a aproximação do governo brasileiro de regimes como China, Irã e Rússia, e criticou publicamente a postura do Brasil em fóruns multilaterais. Em contrapartida, o presidente Lula e seus ministros adotaram um tom distante em relação à nova administração republicana.

Em novembro de 2024, circularam rumores de que os vistos de autoridades brasileiras poderiam ser suspensos. À época, ministros do STF ironizaram a possibilidade, considerando-a uma “narrativa fantasiosa”. Agora, com a confirmação da revogação, a situação tomou contornos diplomáticos sérios e gerou constrangimento nos bastidores da diplomacia brasileira.

Liberdade de expressão e ativismo judicial no foco da crise

A motivação principal da medida adotada por Trump está diretamente relacionada ao cerceamento da liberdade de expressão no Brasil. O governo americano expressou preocupação com o crescente número de decisões judiciais que resultaram em censura prévia, suspensão de perfis em redes sociais, prisão de jornalistas, influenciadores e cidadãos críticos ao STF e ao governo. Para os EUA, essas ações ferem diretamente os princípios democráticos e o direito à livre manifestação, base da Constituição americana.

Nos últimos anos, Alexandre de Moraes ganhou notoriedade como relator de diversos inquéritos controversos, incluindo o das Fake News, milícias digitais e atos antidemocráticos. Críticos alegam que Moraes acumulou poderes extraordinários, agindo ao mesmo tempo como vítima, investigador e julgador, o que violaria o devido processo legal.

Repercussão internacional e danos à imagem do Brasil

A decisão americana teve forte repercussão internacional. Analistas políticos apontam que essa é uma das mais duras medidas diplomáticas já tomadas pelos EUA contra autoridades de um país considerado aliado. Em organismos internacionais e veículos da imprensa global, o episódio está sendo interpretado como um alerta de que o Brasil pode estar se distanciando de padrões democráticos aceitos internacionalmente.

Investidores e empresas que atuam em parceria com o Brasil também observam com preocupação os desdobramentos da crise. A revogação dos vistos de ministros do STF poderá criar instabilidade institucional e prejudicar a imagem do país junto a parceiros estratégicos.

E agora? Os próximos passos da diplomacia brasileira

O governo Lula ainda avalia como responder à ofensiva americana. Até o momento, o Itamaraty não emitiu nota oficial de protesto ou convocação de embaixadores, mas há expectativa de que a situação escale nas próximas semanas. Não se descarta, inclusive, a adoção de medidas diplomáticas em resposta, como restrições recíprocas ou denúncia em fóruns internacionais.

Ministros do STF, por sua vez, evitam comentar publicamente o caso. Nos bastidores, a decisão de Trump é vista como uma afronta sem precedentes à soberania nacional. No entanto, cresce entre juristas e políticos a percepção de que o Brasil precisará reavaliar sua postura institucional para restaurar a confiança da comunidade internacional.

Crise expõe fragilidade institucional brasileira

O cancelamento dos vistos de Alexandre de Moraes e seus aliados marca um ponto de inflexão nas relações entre Brasil e Estados Unidos. Mais do que uma questão consular, trata-se de uma crítica direta à atuação de autoridades brasileiras que, na visão da atual administração americana, vêm minando liberdades essenciais em nome de uma suposta proteção à democracia.

O episódio coloca o Brasil em uma encruzilhada: ou avança para uma revalorização do Estado de Direito e do equilíbrio entre os poderes, ou continuará sendo alvo de críticas e medidas restritivas por parte de seus principais parceiros internacionais.

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