Uma investigação conduzida pela Polícia Federal identificou possíveis irregularidades em contratos de limpeza urbana e pavimentação em municípios da Bahia que envolvem fraudes em licitações, corrupção e desvio de recursos públicos. O foco está em contratos firmados com a empresa Allpha Pavimentações, pertencente a Alex e Fabio Parente, que venceu licitações em Campo Formoso, administrada por Elmo Nascimento, com repasses provenientes de emendas parlamentares de Elmar Nascimento (União-BA).
+ Leia mais notícias de Política em Oeste
Segundo a Polícia Federal, conversas interceptadas mostram que Francisco Nascimento, ex-secretário-executivo e primo do deputado, teria manipulado licitações para beneficiar empresários investigados. Em uma das disputas, apenas Allpha e Lumax participaram, sendo que a proposta da Lumax foi considerada inferior. O proprietário da Lumax também foi alvo da etapa mais recente da operação da PF.
Inquérito chega ao STF depois de indícios de envolvimento de Elmar Nascimento
O inquérito alcançou o Supremo Tribunal Federal (STF) depois que surgiram indícios de envolvimento do deputado Elmar Nascimento. Documentos apreendidos com Alex Parente detalham transferências de R$ 493 mil para Amaury Albuquerque Nascimento, assessor e primo do parlamentar. Além disso, a compra de um imóvel por Elmar da filha de Marcos Moura, conhecido como “rei do lixo”, por valor abaixo do mercado, também passou a ser investigada.
A Procuradoria-Geral da República afirmou que, até o momento, as evidências contra Elmar são circunstanciais e não justificam medidas restritivas. O ministro Nunes Marques, do STF, concordou e rejeitou pedidos de bloqueio de bens e afastamento do deputado, assim como de Elmo Nascimento. No entanto, autorizou o afastamento do então presidente da Codevasf, que já não estava mais no cargo.
Entre os elementos apresentados pela PF estão mensagens que mencionam uma reunião de Elmar com empresários investigados em Brasília, em 28 de novembro de 2022, dias antes da liberação de emendas para obras sob suspeita. A defesa do deputado negou que esse encontro tenha ocorrido. Na ocasião, Alex Parente também teria se reunido com Davi Alcolumbre (União-AP) e Evandro Baldino do Nascimento, ambos investigados.
As mensagens sugerem que Elmar teria articulado para beneficiar a Allpha Pavimentações em licitações financiadas por suas emendas à Codevasf. Em junho de 2022, ele solicitou o envio de R$ 40 milhões ao município via emendas do orçamento secreto. Os recursos foram usados em duas licitações de pavimentação, totalizando R$ 45 milhões e R$ 12 milhões, entre o final de 2023 e o início de 2024.
Acusações e defesa do deputado
Antes da primeira licitação, em 16 de maio de 2023, Elmo Nascimento se reuniu com Alex Parente, Evandro Baldino e Lucas Maciel Lobão Vieira na Codevasf em Juazeiro. Segundo a PF, Elmar estava ciente do encontro, informação refutada por sua defesa. O deputado também teria mantido contato prévio com Alex Parente, convidando-o para um evento festivo em novembro de 2022 enquanto viajava em um navio.
Em 2024, Elmar negociou com Parente a data de entrega da primeira obra da Allpha em Campo Formoso e esteve presente na inauguração. A Polícia Federal identificou ainda pagamentos de Amaury para Campo Esmeralda Participações, empresa da qual a esposa de Elmar, Luciana de Olivaes Lacerda Nascimento, é sócia, apontando possível repasse indireto de valores ao parlamentar.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelou que Amaury movimentou valores incompatíveis com sua renda entre abril de 2024 e janeiro de 2025, incluindo transações imobiliárias sem origem lícita aparente, reforçando os indícios de atuação coordenada para beneficiar a Allpha, segundo a PF.
A defesa de Elmar alegou que os contatos com Parente para definir a data de inauguração são rotineiros e visam a facilitar a presença de autoridades. Também destacou que as provas contra o deputado são frágeis e que a PGR se manifestou contrária a medidas contra ele, apesar de meses de investigação e vazamentos à imprensa, conforme informou o portal UOL.
Sobre a suposta reunião em Brasília, a defesa negou sua existência, contestando o relato de Alex Parente. Em relação à empresa da esposa, afirmou que estava em fase de constituição e sem atividades nem conta bancária. Quanto ao imóvel negociado com Marcos Moura, disse tratar-se de transação regular, documentada e financiada por banco.
Por fim, afirmou que Elmar desconhece qualquer envolvimento de Amaury nos fatos apurados. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) informou que segue colaborando com as autoridades nas investigações da Operação Overclean.
Leia também: “Togas fora da lei”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 245 da Revista Oeste
Fonte: Revista Oeste
+ There are no comments
Add yours